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25 de junho de 2013

Despertador


Ontem, 3h30 da manhã. Acordamos todos com barulhos de tiros, bem próximos. Alguns escutaram 3, outros 4. Eu só escutei 2. Devo ter acordado depois dos dois primeiros. Já tínhamos escutados tiros antes, mas nunca tão próximos assim. Há muitos barulhos que se parecem com um tiro, como uma manga que cai sobre um telhado de metal, um escapamento de carro que estoura, até mesmo uma porta que bate e etc. Mas o barulho de tiro é distinto : é um barulho seco, alto e rápido. Você simplesmente sabe que se trata de um tiro. Logo em seguida nenhum barulho, nenhum grito, nem um carro, nada. A morte aconteceu, levou uma vida e deixou pra  trás um sinistro silêncio, como se até os pássaros e os ventos soubessem que naquele momento a única ação prudente é se calar. Um luto imediato se instala morbidamente no perímetro onde o assassinato aconteceu.  

Fomos saber mais pro fim da tarde o que tinha acontecido : as gangs de Cité Soleil estão em guerra interna. Uma confusa disputa de poder entre chefes de gang é o motivo do crescimento da violência. Essas gangs seguem a tradição haitiana onde o próprio estado patrocina esses bandos pra manter a ordem, e às vezes, pra criar a desordem (ler o post sobre o contexto politico do Haiti e sobre a Cité Soleil). A principal gang de Cité Soleil recebe ajuda financeira do sub-prefeito dessa região. Aprentemente outros chefes de gang querem tomar a liderança da comunidade pra ter acesso à essa grana.

O que aconteceu ontem foi mais uma dessas histórias. Quatro pessoas foram feridas a bala nessa mesma madrugada em diferentes locais do bairro, e os tiros que escutamos foram do assassinato de um homem que aparentemente não tinha nada a ver com a guerra das gangs, provavelmente morto por estar no lugar errado na hora errada. Era um comerciante, já de mais idade. Tomou quatro tiros à queima roupa enquanto caminhava, sem nenhuma razão aparente. Assassinar civis por nenhum motivo também é uma tradição de Porto Principe. Isso gera instabilidade na comunidade atacada, cria a impressão que seu lider não lhes provê proteção o suficiente. Uma tática sinitra usada pelas gangs como forma de matar a facção rival de dentro pra fora. Foi provavelmente o que aconteceu.

Curiosamente, nessa mesma madrugada não tivemos entrada de baleados na sala de urgência. O crime aconteceu bem próximo ao nosso hospital, porém a vítima foi levada pra outro lugar pra ser tratado antes de sucumbir aos ferimentos. Provavelmente não queriam manchar a rua do único hospital da comunidade com uma reputaçao violenta pra evitar maior presença da MINUSTAH e polícia na area.

Escutar um assassinato é uma experiência nova pra mim. Fez-me pensar como os filmes nos levam a pensar que é algo tão banal tirar a vida de uma pessoa. Na vida real a coisa pesa, há um clima sinistro no ar, uma angústia que é mistura de revolta, tristeza, impotência e de uma incoerente paz. É difícil prever o que se passará na nossa cabeça nessas horas inéditas da vida. Uma noite que vai ser dificil esquecer.

22 de junho de 2013

Caso Bizarro no. 1

Como era de se esperar, os casos bizarros do hospital já começaram a surgir….

Essa semana uma acompanhante de uma paciente supostamente sofreu uma tentativa de estupro em um banheiro do hospital por um dos nossos empregados, um faxineiro. Segundo ela, que está grávida de 5 meses, o rapaz forçou a porta do banheiro e tentou agarrá-la à força. Ela conseguiu empurrá-lo e evitar o pior.

Um detalhe bem importante: ela é cunhada do chefe de uma das gangs da Cité Soleil. Ao sair do banheiro ela foi diretamente denunciar o ocorrido para um dos nossos controladores de armas da portaria, que também é seu parente. Esse veio nos procurar dizendo que o faxineiro tarado seria jurado de morte pelo chefe da gang. O índice de estupros nessa comunidade é altíssimo, e geralmente a justiça é feita com as proprias mãos.

Hora de parar tudo e acalmar a situação! A última coisa que precisamos é de um mais um assassinato, dentro do hospital então seria a catástrofe total, podendo mesmo levar ao fechamento do projeto todo.

Foi todo um dia recebendo testemunhas e ouvindo as diferentes partes. Ouvimos a vítima, o agressor, o controlador de armas e ontem recebemos o chefe de gang aqui no hospital. Deve ter uns 2 metros de altura, uns 150 Kg e um olhar de quem já fez coisas demais nessa vida pra sequer ter o trabalho de se arrepender. Só topou deixar a arma na portaria pois conhece o controlador de arma, que aliás é também nosso informante do que se passa nos bastidores de Cité Soleil…

A bizarrice não acaba por aí. Enquanto era preparado o processo de demissão do acusado (não é tão simples como parece, tem que haver prova concreta, com ocorrência policial e etc) o tal controlador de armas nos chamou. Disse que a vítima voltou atrás nas acusações e que na verdade o que tinha ocorrido é que o faxineiro tinha dado-lhe uma cantada de mau gosto e que ela, em fúria, tinha acusado-lhe de algo mais grave, o que condiz com o discurso de defesa do acusado. Pelo jeito nunca vamos saber o que ocorreu de verdade. Ela retirou as acusações e ficamos com as mãos atadas no processo demissional.  

O faxineiro foi suspenso temporariamente do serviço, pois apesar de ser uma falta menos grave, cantar pacientes e acompanhantes não é um comportamento nada aceitável. Está de cartão amarelo. Acontece é que a notícia dessa novela circulou, e as enfermeiras tomaram partido do faxineiro e a vítima da cantada passou a se sentir constrangida dentro do hospital. Mais reunião, mais apasiguamento dos ânimos, dessa vez com as enfermeiras. E olha que são 109 delas !

Tanta diplomacia parece ter funcionado até o momento : o faxineiro está suspenso em casa por uma semana, a acompanhante continua dentro no hospital sem sofrer constragimento das enfermeiras e o chefe de gang de Cité Soleil está tratando dos seus negocios cotidianos longe daqui, sem intenções sanguinárias até o momento… 

13 de junho de 2013

La Saline: a miséria em seu estado pleno


Porto Principe é uma cidade de contrastes extremos. Enquanto a maioria da população vive sem emprego e vende o almoço pra pagar a janta, existe uma elite com muita grana. O bairro de Pétionville, no alto da cidade, concentra a maior parte dessa turma endinheirada. Pelo mesmo motivo é o bairro onde há os bons restaurantes, bares e lojas. Embora não seja nenhum Leblon ou Jardins, ainda assim é alta classe. Se não fossem pelos seguranças armados com metralhadoras automáticas na porta de sorveterias, poderia-se até se pensar que se está numa cidade brasileira.

O índice de criminalidade é muito alto em Porto Príncipe e quem tem dinheiro tenta se proteger de toda forma. Os sequestros são comuns no Haiti, principalmente na épocas de férias de julho e agosto nos EUA e também durante o Natal. Isso porque os haitianos que moram nos EUA ou Canadá (que são muitos) costumam voltar pra cá pra visitar a família e trazer presentes. Os sequestradores ficam de olho em seus dólares.

Certa vez li um artigo que analisava pragmaticamente a relação da pobreza com a violência em diversos países : como poderia a Índia com tanta pobreza ser um país tão pacífico? E como poderia os EUA com tanto dinheiro ser tão violento? Depois de analisar vários países, a conclusão foi bem interessante: o principal fator gerador de violência em um determinado local não é a pobreza em si, mas a desigualdade social entre classes dentro de um mesmo país. Quanto mais desigual, mais violento. Isso explica um pouco do que se passa no Brasil, que apesar de estar crescendo e enriquecendo continua muito violento. Aqui Haiti não é diferente, e o caso é mais extremo.

Noutro dia, passando por uma avenida considerada « zona vermelha » onde somos proibidos de passar por ser muito violenta (mas o motorista estava com pressa e eu não tinha a menor ideia onde estava) passamos por uma das maiores e mais miseráveis favelas do mundo, La Saline. Eu me refiro à miséria no seu estado absoluto : feia, fétida, doente e sem final feliz. A pobreza não é novidade pra mim, morei 2 anos na África em um dos seus países mais pobres. Conheci mutos lugares pobres e ricos neste continente. Mas nada se iguala ao que eu vi em La Saline. São kilometros de barracas feitas de metal, entulhadas uma do lado das outras sob um calor sufocante de 40 graus. As ruelas são todas alagadas por 30 cm de água preta, escura como petróleo. Trata-se de água de esgoto parada e já estabelecida, como um córrego que já conhece seu caminho. Andar com os pés submersos neste esgoto é coisa do dia a dia de quem mora ali. A quantidade de moscas é algo inacreditável, enxerga-se de longe as nuvens nebulosas desses pequenos insetos por todo lugar. O cheiro tampouco passa desapercebido. Antes mesmo de chegarmos perto dessa comunidade e bem depois dela sente-se um cheiro forte e nauseante, que ocupa os pulmões, esmaga o coração e faz o cérebro se perguntar como qualquer ser humano pode passar todos os dias de sua vida nesse inferno absoluto e indomável. É uma miséria muito dificil de ser superada, é difícil imaginar como uma pessoa pode ser mais miserável nesse mundo do que aqueles que passam sua vida interia em La Saline.

Favela de La Saline
Não tirei fotos, não por uma questão ética (pois esse tipo de tragédia humana tem que ser divulgada), mas por simplesmente ter medo de perder minha câmera que provavelmente vale anos de alimentação/higiene pra um morador de lá. Ainda assim achei algumas fotos na internet desse local que condizem com o que vi. Se você pensa que deus é justo e que a natureza é perfeita, meu amgo, é porque tem algo muito errado com você. Nós somos talvez o mais imperfeito, injusto e sem compaixão de todos os animais.


Mercado de La Saline

Miséria total em La Saline

Em La Saline os moradores andam sobre o esgoto no dia-a-dia

O cheiro é insuportável


4 de junho de 2013

Primeiras impressões do Haiti


Cheguei há exatamente 4 dias no Haiti. Estou finalmente instalado na minha “casa” dos próximos  7 meses e fiz hoje a visita oficial ao hospital onde vou trabalhar.

Vivemos juntos uma equipe de 20 pessoas, de variadas nacionalidades. Cada um de nós temos um “chalé” de madeira bastante rústico. Ficam espalhados num terreno amplo anexo ao hospital. Temos uma quadra de vôlei e uma cozinha coletiva ampla onde o pessoal passa o fim de tarde. Não há água quente, mas o calor daqui dispensa qualquer chuveiro com resistência elétrica. Concidentemente há um outro brasileiro entre essas pessoas, chamadas por aqui de expatriados ou simplesmente “expats”. Uma coincidência mesmo, pois entre 30.000 pessoas, não há muitos brazucas na organização.  Dentre essas pessoas há médicos, enfermeiros, administradores, gestores de projeto e os responsáveis de logísticas.

Anexo a esse terreno onde moramos há o hospital. São muito impressionantes suas instalações e seu tamanho. É realmente um hospital de 1a linha, que atende principalmente as urgências mais complicadas, como queimados, acidentados e vítimas de violência. São 125 leitos atualmente, que recebem 3000 pacientes por mês. No mesmo local há um segundo hospital do mesmo tamanho que abre quando ocorrem as epidemias de cólera, que são recorrentes no Haiti. Pelo que me disseram é uma correria danada quando isso acontece, pois têm que praticamente dobrar a mão de obra, remédios, combustível e por aí vai.

Esse mês começa a temporada das chuvas e com isso devemos ter que abrir esse segundo hospital, pois a água acumulada na cidade que tem um péssimo saneamento propaga a cólera.

Quanto ao hospital há muitos queimados, a maioria deles devido a choques elétricos devido às instalações elétricas caóticas que fazem parte da paisagem dessa cidade. Há porém outros casos como explosões de tanques de combustível, de geradores e etc. Na semana passada um tanque explodiu no meio de um mercado popular e 30 pessoas tiveram que ser internadas por aqui.

Os próximos meses prometem, pois além dos casos “normais” e da muito provável epidemia de cólera que se anuncia há dois fatores que provavelmente farão o fluxo de pacientes aumentar. Primeiramente a estação de ciclones que começa esse mês. Já são 18 ciclones na região previstos pelos meteorologistas (já têm até nome e tudo), sendo que 9 deles com possibilidade de aumentarem e se transformarem em furacão. Temos uma casa construída em concreto, uma espécie de bunker, no nosso terreno onde devemos nos refugiar caso um deles resolva passar por Porto Príncipe. Pra completar o quadro, até o final do ano devem acontecer as eleições legislativas e os atores políticos começam a se movimentar da maneira haitiana: armando gangs das favelas que aterrorizam outras comunidades de partidos rivais. Esse final de semana já tivemos 11 feridos à bala que deram entrada no hospital, todos vindo da Cité Soleil. E nenhum deles pertencia à nenhuma gang, eram civis. A tática desses bandos armados é aterrorizar a população pra mostrar o quanto o chefe da gang rival (patrocinado pelo partido político rival) não tem a capacidade de protege-los. Assim funcionou a política haitiana nas últimas décadas e infelizmente continua assim.

O meu trabalho específico, que é controlar as finanças do hospital, será grande. Temos o maior orçamento de toda a organização, é de fato um hospital caro e que tende a ficar mais caro ainda com todas essas previsões...

Porém o Haiti não é só tragédia. Esse final de semana fomos à um bar com música ao vivo caribenha, acompanhada de rum! Nada mal. No domingo deu pra ir à praia, comer lagosta fresca, pescada na hora com uma vista sensacional! Acho que serei obrigado a repetir essa visita mais vezes!

Praia de Taina, Haiti

Come-se muito bem por aqui!


Os próximos meses prometem!

21 de maio de 2013

Cité Soleil

A comunidade Cité Soleil é onde fica o hospital onde vou trabalhar e a casa onde vou morar. É a maior favela do Haiti, comporta entre 200 e 400 mil pessoas. Na verdade, é a maior favela do hemisfério norte. Suas primeiras moradias foram instaladas em 1958, com apenas 52 famílias. 

Nos anos 80 houve uma explosão demográfica devido ao êxodo dos camponeses que ficaram sem suas únicas posses: porcos. No começo dessa década houve uma explosão de gripe suína na vizinha República Dominicana. Com medo de que a doença cruzasse a fronteira do Haiti, o governo do país juntamente com pressão do USAid fizeram uma ampla campanha de exterminação do porco de origem haitiana, conhecido como Porco Créole, mesmo se não houvessem ainda provas de que estivessem contaminados. O governo americano prometeu recompensar aqueles que matassem seus animais com porcos americanos, o que foi feito. Acontece que o porco americano mostrou-se fraco e caro e não se adaptou às condições do Haiti. Com isso, ocorreu uma imensa migração dos camponeses, que ficaram sem nada, dos campos pra cidades à procura de empregos. Esse evento do extermínio de porcos foi tão significativo que até mesmo a culinária e os rituais religiosos sofreram mudanças. O suíno que era parte integral da dieta e culinária haitiana desapareceu, substituídos pelo frango americano. O porco Créole que era também usado havia centenas de anos das cerimônias religiosas (sacrifícios e banquetes) não é mais visto nessas ocasiões. 

Cité Soleil, Porto Príncipe

Os Chimères, gangs armadas
da Cité Soleil (foto de 2004)
Em um segundo momento da história do Haiti houve uma nova corrente migratória em direção à Cité Soleil nos anos 80/90. Com Baby Doc a implantar o neoliberalismo no país, algumas indústrias começaram a surgir e a comunidade de Cité Soleil começou a ser ocupada por seus funcionários. Tudo muito bem até que em 1991 o presidente Aristide sofre um golpe de estado e os produtos haitianos passam a ser boicotados. Foi a falência das poucas indústrias instaladas no país. Os antes assalariados moradores de Cité Soleil passam a ser desempregados, que deu origem a uma geração desesperada, subnutrida, analfabeta e violenta. 

Documentário 
sobre os Chimères
A situação se agravou nos próximos 10 anos e em 2004 Cité Soleil era dominada por mais de 30 gangs. Era um território impenetrável com níveis de violência jamais vistos. Em 2004 a comunidade foi apontada pela ONU como o lugar mais violento do planeta. As milícias armadas, muitas vezes patrocinadas por políticos tomavam conta do local com braço de ferro. Modelo parecido com o que vemos nas favelas brasileiras. Foi em Cité Soleil que nasceram os famigerados Chimères (ou fantasmas), gangs armadas patrocinadas contestavelmente por Aristide. Os Chimères operavam com armas, torturas e caos. Foram inspiração inclusive para um filme/documentário chamado "Ghosts of Cité Soleil" que ganhou alguns prêmios por aí. Eu pessoalmente não gostei muito do filme, por não entender qual parte era realidade e qual era ficção, mas para quem quer entender o contexto é muito prestativo. Entre 2004 e 2007 a MINUSTAH, através de diversas incursões armadas na comunidade, conseguiu prender ou matar os principais líderes das gangs e consequentemente desmembrá-las. 

Hoje em dia, Cité Soleil ainda sofre com a violência gerada por uma população miserável, analfabeta e sem perspectivas. Embora essa violência seja muito menor do que os níveis observados entre 2004 e 2007, a comunidade ainda é um campo minado para as tropas da MINUSTAH e abriga os principais cativeiros de sequestro de Porto Príncipe. 

O hospital onde trabalharei atende principalmente os moradores dessa comunidade, que precisam de todo tipo de assistência médica. Após o terremoto muita gente passou a viver em barracas improvisadas de lona, onde permanecem até hoje. Esse tipo de aglomeração (cerca de 350 mil pessoas vivem assim no Haiti) gera um série de complicações: doenças por falta de saneamento, falta de privacidade, violência sexual, queimaduras (muitas casos de incêndio de barracas ao cozinhar) e fácil propagação de epidemias como a cólera. 

Curioso notar como Brasil e Haiti tem histórias similares em suas misérias. 

17 de maio de 2013

Terremoto! y otras cositas más

Em janeiro de 2010 o já miserável Haiti é atingido por um terremoto de 7 pontos na escala Richter. O pior dos últimos 200 anos. Alguns segundos foram suficientes pra derrubar 60% das construções do país: hospitais, escolas, presídios e até mesmo o Palácio Presidencial. Nesse evento morrem cerca de 200 mil pessoas (dados contestados), fere mais de 300 mil e deixa 1,5 milhões sem teto. Isso todo mundo já sabe. O que nem todo mundo sabe é que as consequências imediatas desse evento são só o começo de uma longa, complexa e trágica novela que não tem prazo pra terminar. 

Porto Príncipe após o terremoto
Já se passaram mais de 3 anos desde a tragédia. Apesar do fluxo intenso de ajuda internacional que se sucedeu logo após o terremoto pouco se viu de concreto na melhoria de vida dos haitianos em comparação com 2010. 

Palácio Presidencial após o terremoto. As instituições haitianas já estavam em ruínas anteriormente. 
A entrada em massa e repentina de ONGs e agências da ONU transformaram o Haiti no que chamam de "República das ONGs". Esse tipo de intervenção, apesar de bem intencionadas a princípio, causam males próprios. É um fenômeno apelidado de "efeito dos carros brancos", que faz alusão aos carros tipicamente brancos das agências de ajuda internacionais que invadem regiões do mundo que clamam por assistência: ocorre portanto um desequilíbrio econômico importante em diversas esferas. 

Após o terremoto houve um "tsunami" de agências da ONU
No curto prazo, os efeitos nocivos vão de demissão em massa de funcionários locais como policiais, médicos, administradores públicos, enfraquecendo o já fragilizado governo: há uma rápida e ampla demanda por empregos como motoristas, vigias, cozinheiros e etc. Agências da ONU e ONGs costumam ter um salário relativamente mais alto comparados àqueles do contexto onde intervêm. Em algumas situações o salário de um motorista de uma ONG/ONU pode ser mais alto que de um médico local que trabalha para o Ministério da Saúde. 

No médio prazo há um aumento dos preços de comida, gasolina e serviços em geral, reduzindo o poder de compra da população o que gera um ciclo vicioso de necessidade de ajuda eterna. 

A longo prazo é observado a falência da agricultura nacional que não pode concorrer com os alimentos subsidiados pelos atores internacionais além de instaurar uma cultura de assistencialismo perpétuo que desencoraja e atrofia o desenvolvimento local. 

Arroz subsidiado americano pro Haiti.
De boas intenções o inferno está cheio.
Esses malefícios causados pela "invasão das ONGs" pode ser observada na prática hoje em alguns exemplos no Haiti: 40% o arroz consumido era cultivado no próprio país. Atualmente essa número é somente 2%, devido às doações de milhares de toneladas desse produto pelo US Aid. Nos mercados de Porto Príncipe, o arroz americano é mais barato que o haitiano. O US Aid é um dos mais questionados sistemas de ajuda, pois com o intuito de ajudar os haitianos, acaba por ajudar ainda mais os produtores americanos, que ganharam um novo mercado de 10 milhões de estômagos.

Protesto contra a presença das tropas da ONU no Haiti
por terem trazidos de volta a cólera ao país
Além desses efeitos já conhecidos pelos economistas e estudiosos do assunto, existe também outros efeitos colaterais que podem ocorrer por "azar". No caso do Haiti, o caso mais exemplar foi a reintrodução da cólera, que já tinha sido erradicada havia mais de 100 anos no país. Tropas nepalesas da ONU que não eram exatamente campeões nas olimpíadas de higiene, contaminaram um dos principais rios de Porto Príncipe com a bactéria da cólera importada do Nepal. A doença se espalhou rapidamente pelo Haiti, gerando uma epidemia de proporções homéricas, afetando mais de 500 mil pessoas. Desde então, os ciclos epidêmicos dessa doença são recorrentes no país.

Como se não bastassem todas essas tragédias, o Haiti ainda tem a problemática geográfica. Ter sua capital instalada exatamente sobre uma falha geológica não é o único problema. O país fica também na rota dos ciclones e tempestades tropicais do Caribe e é atingido todos os anos por esses fenômenos da natureza. 

O furacão Sandy passou pelo Haiti antes de virar cenário fotográfico de Nana Gouvea
Nana Gouvea & Sandy numa bela parceria. 
Para-casa pra mídia: rever foco de atenção.
Em 2012, enquanto todos ficavam espantados com a falta de luz em New York devido a passagem do furacão Sandy (mais de 15 milhões de iPhones sem bateria, uma verdadeira tragédia), esqueceram que antes de chegar à Big Apple, o mesmo passou pelo Haiti. Deixou dezenas de mortos, causou deslizamentos de terra, arruinou plantações e adicionou mais 18 mil haitianos na lista dos sem abrigo. Enchentes causadas por essas recorrentes tempestades e furacões propicia a propagação da cólera. Cada ano o Haiti conhece ao menos 2 epidemias da doença.

O Haiti faz parte de um contexto político, geográfico e histórico extremamente complicado. Não há respostas simples para o que deve ser feito para ajudar o país. A maioria das intervenções nascem de boas intenções, mas podem se tornar verdadeiros tiros pela culatra. Não intervir também não é solução, os haitianos precisam desesperadamente sair da miséria e estar melhor preparados para futuros desastres naturais. Se alguém tiver a resposta certa, favor levantar a mão.

15 de maio de 2013

Contexto político do Haiti

Admito que eu sabia pouco da história desse país, não muito mais do que saía e sai nas trágicas manchetes que costumam fazer referência ao Haiti. Empenhei-me em estuda-la recentemente e fiquei surpreso com o significado que o país tem no contexto histórico mundial, principalmente no que se refere à descolonização, diáspora negra, abolicionismo e mesmo iluminismo. Além disso, o país é um excelente estudo de caso no que se refere às intervenções de ajuda internacional e os tiros que saem pela culatra dessas armas carregadas de “boas intenções”...

A ilha caribenha de São Domingos que hoje é separada por um resoluto traçado imaginário que distingue Haiti da República Dominicana foi no passado um território único chamado pelos colonizadores espanhóis de Isla de Hispaniola. Era habitado havia mais de 7 mil anos por uma população nativa que foi dizimada com a chegada de Cristóvão Colombo em 1492. Em algumas décadas após a chegada dos espanhóis já não havia sequer um dos 100mil nativos que estivesse de pé, vítimas de escravidão brutal, maus tratos ou de doenças europeias: o extermínio ameríndio padrão por parte dos colonizadores europeus na época das Grandes Navegações. Mas nada que a conveniente importação de mão de obra africana não resolvesse. Com a extinção da população aborígene, começou a segunda grande atrocidade do Haiti, a utilização de mão de obra negra escrava em grande escala, que veio a ser um fator determinante nos eventos posteriormente ocorridos no país.


Isla de Hispaniola (mapa feito em Veneza datado de 1576)
Nos próximos 200 anos os espanhóis exploravam tranquilamente as riquezas minerais da Isla Hispaniola enquanto os franceses ficaram de olho na parte oeste da ilha, que estava meio abandonada por ser pobre em minérios. Aos poucos foram ocupando uma terrinha aqui e outra acolá até que em 1697 o então rei da Espanha (por acaso sobrinho de Louis XIV) reconhece o terço ocidental da ilha como francês e traça uma linha imaginária no mapa: ao leste território espanhol e a oeste francês. Esses batizam o novo território de Saint Domingue. 


Saint Domingue (mapa de 1764)
Nos próximos 100 anos a nova colônia vê 30 mil franceses desembarcarem em suas terras. Com os lucros gigantescos provindo das plantações de cana-de-açúcar e índigo, Saint Domingue torna-se por volta do ano de 1790 a colônia francesa mais rica das Américas. A população de escravos negros é então de 400 mil pessoas, mais de 10 vezes a população branca.

Lembrando que nesse período espalhavam-se os ideais iluministas de igualdade, fraternidade e liberdade na Europa. Essas ideias revolucionárias chegaram rapidamente às colônias americanas e caribenhas. Os direitos universais eram declarados em Paris e nascia a Revolução Francesa. A população mestiça e negra de Saint Domingue logo se apressou a enviar um pedido à Paris para que também instaurasse direitos raciais na ilha (ainda escravos, porém com mais direitos), o que lhes foi concedido oficialmente, causando revolta por parte dos brancos donos de plantações. Os mesmos não só ignoraram a nova ordem enviada por Paris como também endureceram o tratamento dos escravos em Saint Domingue como resposta à tamanha "ousadia". Era tudo que faltava para o barril explodir.

A francesada apanhou sem dó
Toussaint Louverture
Em 1791 um grupo de 1000 escravos começou uma revolta, executando seus patrões brancos e queimando fazendas e plantações. Rapidamente juntaram-se a eles outros milhares de negros e mestiços e em 3 dias praticamente toda a infraestrutura da lucrativa ilha estava queimada ou pilhada. Esse foi o início da revolução que sofreu várias reviravoltas durante alguns anos até que em 1794 a França de Robespierre abole a escravidão e todos os negros das colônias tornam-se cidadãos iguais perante a lei. Neste período o líder da revolução negra, chamado Toussaint Louverture, torna-se um general do mais alto cargo, na época o negro com a maior patente militar em todo o mundo. Esse camarada é um  herói nacional haitiano.

As coisas voltam a se agitar em 1802 quando Napoleão resolve voltar no tempo e torna-se determinado a restaurar a escravidão nas colônias caribenhas. A marinha de Bonaparte invade Saint Domingue com a maior armada já formada pela França, prende Louverture e restaura a “ordem branca” na ilha, embora sem restaurar a escravidão, ainda... A ilha passa a funcionar dentro da “normalidade” até que a notícia se espalha de que Napoleão acabava de retomar a escravidão na até-então-livre ilha vizinha de Guadaloupe. Os negros de Saint Domingue então começaram entender as verdadeiras intenções dos brancos e se revoltaram de novo, dessa vez de uma maneira muito mais violenta e definitiva. Na ausência de Louverture, um sujeito  chamado Dessaline toma a liderança e começa o massacre de todos os brancos de Saint Domingue. Foi uma limpeza racial radical que deu origem finalmente à República do Haiti, primeira república fundada por negros escravos no mundo. Foi uma conquista sangrenta, dramática e pioneira. É como se Zumbi dos Palmares expulsasse todos os brancos do Brasil e instaurasse um país negro independente (com permissão poética).

Dessa vez não sobrou um francês pra contar a história

A revolução haitiana foi pioneira no mundo em três aspectos: foi anticolonialista, abolicionista e republicana. Isso em 1804, 18 anos antes de Dom Pedro I gritar “Independência ou Morte!”, 84 anos antes de a princesa Izabel abolir os escravos brasileiros e 85 anos antes da proclamação da nossa república brasileira.

Entretanto, desde então, a vida do Haiti não tem sido fácil. Nos anos que sucederam a conquista da independência, os haitianos viviam sob medo constante de uma nova invasão por parte da França, que engoliu muito seco a perda de sua mais rica colônia. O pesadelo se tornou realidade quando em 1825 a marinha francesa, com 14 navios de guerra, volta a invadir o país. Ameaçam restaurar a escravidão e prender os responsáveis pela expulsão dos brancos 20 anos antes e por aí vai.... a não ser que.... o Haiti pagasse uma “indenização” (pagamento de resgate) no valor de 90 milhões de francos. Corrigidos para os valores atuais, equivale a mais de USD 21 bilhões. Os haitianos pagaram o que pediram para que fossem embora e para evitar uma nova invasão francesa. Essa dívida vai consumir os cofres públicos do país nos próximos 200 anos de maneira tão nefasta que vai ser uma das principais causas da falência do estado haitiano até hoje. Atualmente há um movimento que pretende reaver esse dinheiro da França, pleiteado pelo presidente Aristide em 2003, apoiado por vários advogados internacionais... Esse valor é equivalente a 60 anos de arrecadação de impostos haitianos. Viria a calhar se a França devolvesse esse dinheiro extorquido, pra dizer o mínimo.

Os franceses por sua parte dizem essa página do passado já foi virada que não faria sentido devolver a quantia. Curioso que a página parece ter virado para a França, que certamente fez bom uso do dinheiro. Pros haitianos, entretanto, houve pouca ou nenhuma melhora na qualidade de vida nos últimos dois séculos.


Todavia, esse não foi o único fator que enforcou o desenvolvimento do Haiti.    

Após a independência do país, houve uma sucessão de governantes corruptos e pouco comprometidos com os problemas do Haiti. Houve inclusive um deles que resolveu transformar a república em império em 1849. O imperador Fasutin I governou por 10 anos antes de também ser destituído do poder. A instabilidade política prolongada e os sucessivos golpes de estado agravaram ainda mais a economia haitiana.

Ao ver um estado vizinho em total colapso, os Estados Unidos resolvem ocupar o Haiti em 1915. Restauraram alguma ordem social e institucional, mas trouxeram de volta também um racismo exacerbado que os haitianos já não conheciam havia mais de 100 anos. Os americanos deixaram o país quase 20 anos depois em 1937 deixando como herança um novo exército haitiano que se tornaria um importante fator de instabilidade política a partir de então. Essa não seria a última intervenção americana no Haiti.

O exército haitiano formado pelos americanos aplica diferentes golpes de estados os próximos 20 anos. Ninguém no Haiti confia nos homens de farda: nem população nem classe política.

Os americanos treinam o novo exército do Haiti
É então em 1957 que entra no poder François Duvalier, mais conhecido como “Papa Doc”. O histórico que o exército haitiano tinha torna o presidente paranoico. Seu temor de um golpe de estado iminente é tanta que ele desarma o exército regular e forma um exército para-militar de “voluntários” apelidados Tontons Macoutes. 


Os Tontons-Macoutes
Nessa época a Guerra Fria está a todo vapor: EUA e URSS fazem de tudo e mais um pouco para persuadirem os outros países a abraçarem as causas capitalistas e comunistas, respectivamente. Com Cuba no quintal de casa já causando problemas demais, o EUA resolve patrocinar por debaixo dos panos o governo de Papa Doc, oposicionista declarado dos valores comunistas. Os americanos enviam então agentes da CIA pra treinar os Tontons Macoutes que se tornam uma milícia extremamente violenta, executando e torturando milhares de opositores ao regime de Papa Doc. Sem exército nem polícia regulares, o Haiti se transformou numa verdadeira república de gangsters encabeçada pelo seu presidente (que carregava uma metralhadora pessoal consigo por toda parte). 

"Papa Doc" e sua metralhadora de estimação
Papa Doc morre em 1971 deixando um rastro de horror e sangue e é então substituído pelo seu filho de 19 anos de idade Jean-Claude Duvalier ou “Baby Doc”. Esse promete uma mão mais leve e um maior liberalismo que seu pai, promessas essas que se mostraram vazias logo nos primeiros anos de governo. Depois de 15 anos como chefe de estado, o Haiti encontra-se numa situação desesperadora, com  inflação descontrolada, fome e repressão militar. A população começa a se revoltar e em 1986 Baby Doc foge do país num avião da US Air Force em direção à França, onde passa a ser um exilado. Hoje é sabido que na fuga ele carregou consigo uma quantia equivalente a USD 800 milhões, roubados dos cofres haitianos.

Papa e Baby Doc
Após a queda de Baby Doc e o fim de uma ditadura brutal dos Duvaliers que durou 29 anos, o presidente Jean-Bertrand Aristide, um padre, é eleito democraticamente em 1990.

Extremamente popular e flertando com ideias esquerdistas o presidente Aristide cai rapidamente em desagrado do presidente George Bush pai. Após apenas 7 meses de governo, o Haiti sofre um golpe de estado com lobby americano e Aristide se exila. Nos próximos 3 anos a CIA patrocina e treina as milícias locais, que reprimem com fogo os ativistas sindicais e simpatizantes de Aristide. 

Em 1994, um Bill Clinton querendo corrigir os erros republicanos do passado, apoia o retorno de Aristide pro Haiti, que governa por mais 1 ano. Não podendo ser eleito presidente duas vezes consecutivas, as próximas eleições são vencidas pelo seu braço direito Préval. Após 4 anos de governo, há novas eleições e mais uma vez Aristide se candidata e ganha o páreo por uma assustadora margem de mais de 90% dos votos.  


Estamos nos anos 2000 o George Bush filho governa os EUA. Esse já sem paciência com seus vizinhos esquerdistas, como Chavez e Castro, resolve copiar o papai. Impõe um embargo comercial pesadíssimo ao Haiti, já um dos mais pobres países do mundo. Nos próximos 3 anos do novo mandato do presidente Aristide, toda a política americana (através de seus lobistas industriais que usufruem da mão de obra barata haitiana) é dedicada fervorosamente a aniquilar o partido do presidente através de embargos e falsas acusações.
Aristide: eleito democraticamente duas vezes e deposto por intervenção externa também 2 vezes, por defender políticas sociais contrárias aos lobistas industriais

Um dos maiores absurdos e injustiças da atualidade, o governo americano prometeu uma fundo no valor de USD 850 milhões para ajudar o Haiti a sair da pobreza. Esse dinheiro nunca foi visto pelo governo haitiano, ele foi todo repassado para ONGs instaladas no país. ONGs não pagam salário da polícia, não constroem escolas nem estradas. Ainda assim, o Haiti foi obrigado a pagar os juros desse empréstimo que nunca tocou. Como se não bastasse, os lobistas americanos gritavam pro mundo inteiro ouvir que Aristide era um administrador incompetente por não conseguir organizar o estado, “apesar de ter recebido USD 850 milhões” de ajuda. Muitas ONGs internacionais hoje são mal vistas no Haiti, por serem “concorrentes” do estado na arrecadação de fundos de ajuda internacional. Malgrado o embargo, juros cobrados injustamente e de todas as tentativas de Bush filho de acabar com a reputação do presidente, Aristide continuava com imensa popularidade entre os haitianos pelo pouco que conseguiu construir com o paupérrimo caixa do país. 

Charge em créole ironizando a "simpatia"
das tropas da ONU no Haiti
Ao ver que suas táticas não estava funcionando, os americanos partiram para uma estratégia menos “sutil”: em 2004, na ocasião de uma onda de protestos nas ruas de Porto Príncipe, obrigam o presidente Aristide a embarcar num avião da US Air Force. Dentro da aeronave, durante 20 horas no ar, agentes da CIA “persuadem” o presidente a assinar a renúncia. Trata-se pura e simplesmente de um sequestro. Aristide se exila na África do Sul.

Esse evento desperta um caos popular nas ruas de Porto Príncipe e de todo o Haiti. Uma verdadeira guerra urbana se instaura, com os famosos “chimères” (grupo armado simpatizantes do presidente Aristide) aterrorizando a população. Entra então a missão da ONU para restaurar a ordem no país, missão batizada de MINUSTAH (Missão das Nações Unidas Para a Estabilização do Haiti), comandada pelo exército brasileiro.

Novas eleições são organizadas em 2006 onde o presidente Préval é eleito pela segunda vez num sufrágio recheado de fraudes e dúvidas, mas finalmente aceito pela comunidade internacional legitimado pelo apoio popular ao novo presidente.

Em 2010, com o terremoto que destruiu o que restava do Haiti (do qual falarei com mais detalhes num próximo post), duas figuras políticas de peso retornam de seus exílios ao Haiti, sem que ninguém tenha certeza de suas intenções: Baby Doc e Aristide.


Baby Doc volta ao Haiti depois de 25 anos de exílio na França. Já não tem mais tanta cara de "baby"


Arisitide volta à Porto Príncipe após 7 anos de exílio na África do Sul

Em 2011, com todo o caos pós-terremoto, acontecem novas eleições presidenciais que se passam com relativa calma e transparência. O ex-cantor popular Sweet Micky e atual presidente do Haiti (agora respeitosamente chamado de Michel Martelly) tem ideias de direita e é simpatizante dos golpistas de 1991. Tem muito trabalho a fazer num país que precisa ser inteiro reconstruído e com uma população impaciente.


As diferentes facetas de Sweet Micky, atual presidente do Haiti
Como se pode notar, a história do Haiti não é particularmente pacífica e estável. A escravidão dos chicotes e correntes foi substituída por dívidas e juros impagáveis, políticas externas intervencionistas de governos neoliberais paranoicos e uma cultura de instabilidade política e violência. A revolução de escravos que fundou um país em 1804, liderados por Toussaint Louverture,  ainda permanece um projeto inacabado.