Essa semana uma acompanhante de
uma paciente supostamente sofreu uma tentativa de estupro em um banheiro do
hospital por um dos nossos empregados, um faxineiro. Segundo ela, que está
grávida de 5 meses, o rapaz forçou a porta do banheiro e tentou agarrá-la à
força. Ela conseguiu empurrá-lo e evitar o pior.
Um detalhe bem importante: ela é
cunhada do chefe de uma das gangs da Cité Soleil. Ao sair do banheiro ela foi
diretamente denunciar o ocorrido para um dos nossos controladores de armas da
portaria, que também é seu parente. Esse veio nos procurar dizendo que o
faxineiro tarado seria jurado de morte pelo chefe da gang. O índice de estupros
nessa comunidade é altíssimo, e geralmente a justiça é feita com as proprias
mãos.
Hora de parar tudo e acalmar a
situação! A última coisa que
precisamos é de um mais um assassinato, dentro do hospital então seria a
catástrofe total, podendo mesmo levar ao fechamento do projeto todo.
Foi todo um dia recebendo testemunhas e ouvindo
as diferentes partes. Ouvimos a vítima, o agressor, o controlador de
armas e ontem recebemos o chefe de gang aqui no hospital. Deve ter uns 2 metros
de altura, uns 150 Kg e um olhar de quem já fez coisas demais nessa vida pra
sequer ter o trabalho de se arrepender. Só topou deixar a arma na portaria pois
conhece o controlador de arma, que aliás é também nosso informante do que se
passa nos bastidores de Cité Soleil…
A bizarrice não acaba por aí. Enquanto era
preparado o processo de demissão do acusado (não é tão simples como parece, tem
que haver prova concreta, com ocorrência policial e etc) o tal controlador de
armas nos chamou. Disse que a vítima voltou atrás nas acusações e que na
verdade o que tinha ocorrido é que o faxineiro tinha dado-lhe uma cantada de
mau gosto e que ela, em fúria, tinha acusado-lhe de algo mais grave, o que
condiz com o discurso de defesa do acusado. Pelo jeito nunca vamos saber
o que ocorreu de verdade. Ela
retirou as acusações e ficamos com as mãos atadas no processo demissional.
O faxineiro foi suspenso
temporariamente do serviço, pois apesar de ser uma falta menos grave, cantar
pacientes e acompanhantes não é um comportamento nada aceitável. Está de cartão
amarelo. Acontece é que a notícia dessa novela circulou, e as enfermeiras
tomaram partido do faxineiro e a vítima da cantada passou a se sentir
constrangida dentro do hospital. Mais reunião, mais apasiguamento dos ânimos,
dessa vez com as enfermeiras. E olha que são 109 delas !
Tanta diplomacia parece ter
funcionado até o momento : o faxineiro está suspenso em casa por uma
semana, a acompanhante continua dentro no hospital sem sofrer constragimento
das enfermeiras e o chefe de gang de Cité Soleil está tratando dos seus
negocios cotidianos longe daqui, sem intenções sanguinárias até o momento…
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