Cheguei
há exatamente 4 dias no Haiti. Estou finalmente instalado na minha “casa” dos
próximos 7 meses e fiz hoje a visita
oficial ao hospital onde vou trabalhar.
Vivemos
juntos uma equipe de 20 pessoas, de variadas nacionalidades. Cada um de nós
temos um “chalé” de madeira bastante rústico. Ficam espalhados num terreno
amplo anexo ao hospital. Temos uma quadra de vôlei e uma cozinha coletiva ampla
onde o pessoal passa o fim de tarde. Não há água quente, mas o calor daqui dispensa
qualquer chuveiro com resistência elétrica. Concidentemente há um outro
brasileiro entre essas pessoas, chamadas por aqui de expatriados ou
simplesmente “expats”. Uma coincidência mesmo, pois entre 30.000 pessoas, não
há muitos brazucas na organização.
Dentre essas pessoas há médicos, enfermeiros, administradores, gestores
de projeto e os responsáveis de logísticas.
Anexo
a esse terreno onde moramos há o hospital. São muito impressionantes suas
instalações e seu tamanho. É realmente um hospital de 1a linha, que
atende principalmente as urgências mais complicadas, como queimados,
acidentados e vítimas de violência. São 125 leitos atualmente, que recebem 3000
pacientes por mês. No mesmo local há um segundo hospital do mesmo tamanho que
abre quando ocorrem as epidemias de cólera, que são recorrentes no Haiti. Pelo
que me disseram é uma correria danada quando isso acontece, pois têm que
praticamente dobrar a mão de obra, remédios, combustível e por aí vai.
Esse
mês começa a temporada das chuvas e com isso devemos ter que abrir esse segundo
hospital, pois a água acumulada na cidade que tem um péssimo saneamento propaga
a cólera.
Quanto
ao hospital há muitos queimados, a maioria deles devido a choques elétricos
devido às instalações elétricas caóticas que fazem parte da paisagem dessa
cidade. Há porém outros casos como explosões de tanques de combustível, de
geradores e etc. Na semana passada um tanque explodiu no meio de um mercado
popular e 30 pessoas tiveram que ser internadas por aqui.
Os
próximos meses prometem, pois além dos casos “normais” e da muito provável
epidemia de cólera que se anuncia há dois fatores que provavelmente farão o
fluxo de pacientes aumentar. Primeiramente a estação de ciclones que começa
esse mês. Já são 18 ciclones na região previstos pelos meteorologistas (já têm
até nome e tudo), sendo que 9 deles com possibilidade de aumentarem e se
transformarem em furacão. Temos uma casa construída em concreto, uma espécie de
bunker, no nosso terreno onde devemos nos refugiar caso um deles resolva passar
por Porto Príncipe. Pra completar o quadro, até o final do ano devem acontecer
as eleições legislativas e os atores políticos começam a se movimentar da
maneira haitiana: armando gangs das favelas que aterrorizam outras comunidades
de partidos rivais. Esse final de semana já tivemos 11 feridos à bala que deram
entrada no hospital, todos vindo da Cité Soleil. E nenhum deles pertencia à nenhuma
gang, eram civis. A tática desses bandos armados é aterrorizar a população pra
mostrar o quanto o chefe da gang rival (patrocinado pelo partido político
rival) não tem a capacidade de protege-los. Assim funcionou a política haitiana
nas últimas décadas e infelizmente continua assim.
O
meu trabalho específico, que é controlar as finanças do hospital, será grande.
Temos o maior orçamento de toda a organização, é de fato um hospital caro e que
tende a ficar mais caro ainda com todas essas previsões...
Porém
o Haiti não é só tragédia. Esse final de semana fomos à um bar com música ao
vivo caribenha, acompanhada de rum! Nada mal. No domingo deu pra ir à praia,
comer lagosta fresca, pescada na hora com uma vista sensacional! Acho que serei
obrigado a repetir essa visita mais vezes!
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Praia de Taina, Haiti |
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Come-se muito bem por aqui! |
Os
próximos meses prometem!
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