Admito que eu sabia pouco da
história desse país, não muito mais do que saía e sai nas trágicas manchetes
que costumam fazer referência ao Haiti. Empenhei-me em estuda-la recentemente e
fiquei surpreso com o significado que o país tem no contexto histórico mundial,
principalmente no que se refere à descolonização, diáspora negra, abolicionismo
e mesmo iluminismo. Além disso, o país é um excelente estudo de caso no que se
refere às intervenções de ajuda internacional e os tiros que saem pela culatra
dessas armas carregadas de “boas intenções”...
A ilha caribenha de São Domingos
que hoje é separada por um resoluto traçado imaginário que distingue Haiti da
República Dominicana foi no passado um território único chamado pelos
colonizadores espanhóis de Isla de Hispaniola. Era habitado havia mais de 7 mil
anos por uma população nativa que foi dizimada com a chegada de Cristóvão
Colombo em 1492. Em algumas décadas após a chegada dos espanhóis já não havia
sequer um dos 100mil nativos que estivesse de pé, vítimas de escravidão brutal,
maus tratos ou de doenças europeias: o extermínio ameríndio padrão por
parte dos colonizadores europeus na época das Grandes Navegações. Mas nada que a
conveniente importação de mão de obra africana não resolvesse. Com a extinção
da população aborígene, começou a segunda grande atrocidade do Haiti, a
utilização de mão de obra negra escrava em grande escala, que veio a ser um
fator determinante nos eventos posteriormente ocorridos no país.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh56cFfPQUcxrZgS1eWnHuXJgDRLLw1ECaCkumfIil6SQ2qotWs9T33VLWmPAKJ8XcBJaqn1s-suDwu4gtkDYUuq8sOchkajFLdEES4Bo349JP4PQWMr4aysgM0MN-Hl1_Z-_394Eac-s0/s640/isla+de+hispaniola.jpg) |
Isla de Hispaniola (mapa feito em Veneza datado de 1576) |
Nos próximos 200 anos os
espanhóis exploravam tranquilamente as riquezas minerais da Isla Hispaniola enquanto os
franceses ficaram de olho na parte oeste da ilha, que estava meio abandonada
por ser pobre em minérios. Aos poucos foram ocupando uma terrinha aqui e outra
acolá até que em 1697 o então rei da Espanha (por acaso sobrinho de Louis XIV)
reconhece o terço ocidental da ilha como francês e traça uma linha imaginária
no mapa: ao leste território espanhol e a oeste francês. Esses batizam o novo
território de Saint Domingue.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQQuwu9eFFdA9-17p-UKuTLjVXtq2-NJorYcg7z-oy4qiLnIJolEkgKNTa4T2PhnVLpW_CdSUbPo2K8IVuaVWEdAuag6eTa3VPLegmaECeT0McK4pAiEU993d6rwC4XjWmJ8ZvY1udD4k/s640/06_01_002594.jpg) |
Saint Domingue (mapa de 1764) |
Nos próximos 100 anos a nova
colônia vê 30 mil franceses desembarcarem em suas terras. Com os lucros
gigantescos provindo das plantações de cana-de-açúcar e índigo, Saint Domingue torna-se
por volta do ano de 1790 a colônia francesa mais rica das Américas. A população
de escravos negros é então de 400 mil pessoas, mais de 10 vezes a população
branca.
Lembrando que nesse período
espalhavam-se os ideais iluministas de igualdade, fraternidade e liberdade na
Europa. Essas ideias revolucionárias chegaram rapidamente às colônias americanas
e caribenhas. Os direitos universais eram declarados em Paris e nascia a
Revolução Francesa. A população mestiça e negra de Saint Domingue logo se
apressou a enviar um pedido à Paris para que também instaurasse direitos raciais na ilha (ainda escravos, porém com mais direitos), o que lhes foi concedido oficialmente, causando revolta por parte
dos brancos donos de plantações. Os mesmos não só ignoraram a nova ordem
enviada por Paris como também endureceram o tratamento dos escravos em Saint
Domingue como resposta à tamanha "ousadia". Era tudo que faltava para o barril
explodir.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5FGCFdNcMrKxOisMpY0b9Ff0xKzxU-kQkKcMxPn34cbL0vN7yyOlpi10djkZ2Zp5KzEbn3UFj0ghIvKguOUbDcQoEiJt_O5p3H5cg2SiyKEd0ypKyzlZxxcfUDjtxeIXWBw5AvdBR3cg/s640/revolution-1.gif) |
A francesada apanhou sem dó |
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4IUaDzcKJsVDvkb1sjATwTz1Tia484Hoa6LhA5vhhmZMh7X1ii-0XUv7NYubM6qBDfAeJQhvXQLPpGDf0KcuWErJNJLwaH0lBZxu3vP26HaMDwR4_7ui4gzDCsbKbzfGGRS-ez8APuFw/s400/220px-G%C3%A9n%C3%A9ral_Toussaint_Louverture.jpg) |
Toussaint Louverture |
Em 1791 um grupo de 1000 escravos
começou uma revolta, executando seus patrões brancos e queimando fazendas e
plantações. Rapidamente juntaram-se a eles outros milhares de negros e mestiços
e em 3 dias praticamente toda a infraestrutura da lucrativa ilha estava queimada
ou pilhada. Esse foi o início da revolução que sofreu várias reviravoltas
durante alguns anos até que em 1794 a França de Robespierre abole a escravidão
e todos os negros das colônias tornam-se cidadãos iguais perante a lei. Neste
período o líder da revolução negra, chamado Toussaint Louverture, torna-se um
general do mais alto cargo, na época o negro com a maior patente militar em
todo o mundo. Esse camarada é um herói nacional haitiano.
As coisas voltam a se agitar em
1802 quando Napoleão resolve voltar no tempo e torna-se determinado a restaurar
a escravidão nas colônias caribenhas. A marinha de Bonaparte invade Saint
Domingue com a maior armada já formada pela França, prende Louverture e
restaura a “ordem branca” na ilha, embora sem restaurar a escravidão, ainda... A
ilha passa a funcionar dentro da “normalidade” até que a notícia se espalha de
que Napoleão acabava de retomar a escravidão na até-então-livre ilha vizinha de Guadaloupe. Os
negros de Saint Domingue então começaram entender as verdadeiras intenções dos
brancos e se revoltaram de novo, dessa vez de uma maneira muito mais violenta e
definitiva. Na ausência de Louverture, um sujeito chamado Dessaline toma
a liderança e começa o massacre de todos os brancos de Saint Domingue. Foi uma
limpeza racial radical que deu origem finalmente à República do Haiti, primeira
república fundada por negros escravos no mundo. Foi uma conquista sangrenta, dramática e
pioneira. É como se Zumbi dos Palmares expulsasse todos os brancos do Brasil e
instaurasse um país negro independente (com permissão poética).
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgadz-4qYBgtM-V1RpNy-cTIrTOwIdBI835F5OV80TH7shuysOIHkf7IjNsng0K2MZhwjGPRfvXIx64P724loEC__1gcWG93GxDHB9ZD-OIyrRYayS26L2k4aCQmoIQXsChemyjuQNrTVo/s400/haitian-revolution.jpg) |
Dessa vez não sobrou um francês pra contar a história |
A revolução haitiana foi pioneira
no mundo em três aspectos: foi anticolonialista, abolicionista e republicana.
Isso em 1804, 18 anos antes de Dom Pedro I gritar “Independência ou Morte!”, 84
anos antes de a princesa Izabel abolir os escravos brasileiros e 85 anos antes
da proclamação da nossa república brasileira.
Entretanto, desde então, a vida
do Haiti não tem sido fácil. Nos anos que sucederam a conquista da
independência, os haitianos viviam sob medo constante de uma nova invasão por parte da França, que engoliu muito seco a perda de sua mais rica colônia. O pesadelo se tornou realidade quando em 1825
a marinha francesa, com 14 navios de guerra, volta a invadir o país. Ameaçam
restaurar a escravidão e prender os responsáveis pela expulsão dos brancos 20
anos antes e por aí vai.... a não ser que.... o Haiti pagasse uma “indenização”
(pagamento de resgate) no valor de 90 milhões de francos. Corrigidos para os
valores atuais, equivale a mais de USD 21 bilhões. Os haitianos pagaram o que pediram para que fossem embora e para evitar uma nova invasão francesa. Essa dívida vai
consumir os cofres públicos do país nos próximos 200 anos de maneira tão nefasta
que vai ser uma das principais causas da falência do estado haitiano até hoje.
Atualmente há um movimento que pretende reaver esse dinheiro da França,
pleiteado pelo presidente Aristide em 2003, apoiado por vários advogados
internacionais... Esse valor é equivalente a 60 anos de arrecadação de impostos
haitianos. Viria a calhar se a França devolvesse esse dinheiro extorquido, pra
dizer o mínimo.
Os franceses por sua parte dizem essa página do passado já foi
virada que não faria sentido devolver a quantia. Curioso que a página parece
ter virado para a França, que certamente fez bom uso do dinheiro. Pros haitianos,
entretanto, houve pouca ou nenhuma melhora na qualidade de vida nos últimos dois séculos.
Todavia, esse não foi o único
fator que enforcou o desenvolvimento do Haiti.
Após a independência do país,
houve uma sucessão de governantes corruptos e pouco comprometidos com os
problemas do Haiti. Houve inclusive um deles que resolveu transformar a
república em império em 1849. O imperador Fasutin I governou por 10 anos antes
de também ser destituído do poder. A instabilidade política prolongada e os
sucessivos golpes de estado agravaram ainda mais a economia haitiana.
Ao ver um estado vizinho em total
colapso, os Estados Unidos resolvem ocupar o Haiti em 1915. Restauraram alguma
ordem social e institucional, mas trouxeram de volta também um racismo
exacerbado que os haitianos já não conheciam havia mais de 100 anos. Os
americanos deixaram o país quase 20 anos depois em 1937 deixando como herança
um novo exército haitiano que se tornaria um importante fator de
instabilidade política a partir de então. Essa não seria a última intervenção americana no Haiti.
O exército haitiano formado pelos
americanos aplica diferentes golpes de estados os próximos 20 anos. Ninguém no
Haiti confia nos homens de farda: nem população nem classe política.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjd8Gcee4JMQdWIbhlRSsVFC-uj3MK4DuHDrOqDRVy8YAV26w-IqEcNdTpsQHG4eYIBGUsHUr6Ml7f7BJLiMqs_gSu_49y12BXTI6lxyzhJKXOU_n6DgnET0TvU44h9vSdCdqAebz7xrrM/s640/Occupation_Haitian_Gendarme.jpg) |
Os americanos treinam o novo exército do Haiti |
É então em 1957 que entra no
poder François Duvalier, mais conhecido como “Papa Doc”. O histórico que o exército haitiano tinha torna o presidente paranoico. Seu temor de um
golpe de estado iminente é tanta que ele desarma o exército regular e forma um
exército para-militar de “voluntários” apelidados Tontons Macoutes.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKUgRwbjz9VBwsegUp7dAMsLabRyxnS0KbwREqgCS0xzrgh7FhyphenhyphenN66B8rGl82tmusOfSw8SisvhJW6Kb7rzI3qBDI-yqSyTOGFTwyMPmkvMA1F27ihTTcEhS8QR0hxOz74UVzdIKXWCRQ/s640/tonton-macoute.jpg) |
Os Tontons-Macoutes |
Nessa época
a Guerra Fria está a todo vapor: EUA e URSS fazem de tudo e mais um pouco para persuadirem
os outros países a abraçarem as causas capitalistas e comunistas, respectivamente. Com Cuba no quintal de casa já causando problemas demais, o
EUA resolve patrocinar por debaixo dos panos o governo de Papa Doc, oposicionista
declarado dos valores comunistas. Os americanos enviam então agentes da CIA pra
treinar os Tontons Macoutes que se tornam uma milícia extremamente violenta,
executando e torturando milhares de opositores ao regime de Papa Doc. Sem exército
nem polícia regulares, o Haiti se transformou numa verdadeira república de
gangsters encabeçada pelo seu presidente (que carregava uma metralhadora
pessoal consigo por toda parte).
!["Papa Doc" e sua metralhadora de estimação](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixB89_JjEjPaLn9Wvrgg51ys8lXFmkv7GXUEIo_nxxfTA217nQHVaWHve_37VmzD842W2x7IjYIb9NBhW9-yUz54bpkF_QxSK2BDyaY6bdHQohGA1gkA5yQmbK0qqzjzEeuRvFqhxtIq0/s640/Francois-Duvalier-006.jpg) |
"Papa Doc" e sua metralhadora de estimação |
Papa Doc morre em 1971 deixando um rastro de
horror e sangue e é então substituído pelo seu filho de 19 anos de idade Jean-Claude
Duvalier ou “Baby Doc”. Esse promete uma mão mais leve e um maior liberalismo
que seu pai, promessas essas que se mostraram vazias logo nos primeiros anos de
governo. Depois de 15 anos como chefe de estado, o Haiti encontra-se numa
situação desesperadora, com inflação
descontrolada, fome e repressão militar. A população começa a se revoltar e em
1986 Baby Doc foge do país num avião da US Air Force em direção à França, onde
passa a ser um exilado. Hoje é sabido que na fuga ele carregou consigo uma
quantia equivalente a USD 800 milhões, roubados dos cofres haitianos.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrOOvpRqCyNSR5EORhg0prM273zfmNGM5uwIM1doGDFDI1fGW4mW-kHQ1O0BzNwGCyqWekJbLg2aaqXJdeXoHmG8VwrIeaKOex4fp2lAPhnnXqEHxN0MDcuJAwOOfpINL4D_jCXfaHxms/s400/babyepapadoc.jpg) |
Papa e Baby Doc |
Após a queda de Baby Doc e o fim
de uma ditadura brutal dos Duvaliers que durou 29 anos, o presidente Jean-Bertrand
Aristide, um padre, é eleito democraticamente em 1990.
Extremamente popular e flertando
com ideias esquerdistas o presidente Aristide cai rapidamente em desagrado do
presidente George Bush pai. Após apenas 7 meses de governo, o Haiti sofre um golpe de
estado com lobby americano e Aristide se exila. Nos próximos 3 anos a CIA patrocina e treina as milícias
locais, que reprimem com fogo os ativistas sindicais e simpatizantes de Aristide.
Em 1994, um Bill Clinton querendo corrigir os erros republicanos
do passado, apoia o retorno de Aristide pro Haiti, que governa por mais 1 ano. Não
podendo ser eleito presidente duas vezes consecutivas, as próximas eleições são
vencidas pelo seu braço direito Préval. Após 4 anos de governo, há novas eleições e
mais uma vez Aristide se candidata e ganha o páreo por uma assustadora margem
de mais de 90% dos votos.
Estamos nos anos 2000 o George Bush
filho governa os EUA. Esse já sem paciência com seus vizinhos esquerdistas,
como Chavez e Castro, resolve copiar o papai. Impõe um embargo comercial
pesadíssimo ao Haiti, já um dos mais pobres países do mundo. Nos próximos 3
anos do novo mandato do presidente Aristide, toda a política americana (através
de seus lobistas industriais que usufruem da mão de obra barata haitiana) é
dedicada fervorosamente a aniquilar o partido do presidente através de embargos
e falsas acusações.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUPB0c6QWamTIjbAey38as_do41EuGM7XfH8660jZqj8PYhYYG7nZc8ixQ5OOgpCJF6mTkU2ppTAc0bnL9XAINri0mrfui1yxGk8SeJTR0Cad1waOVT8KWMBt_h2w1rCyWZMBDUCAqr20/s400/aristide_new_pho.jpg) |
Aristide: eleito democraticamente duas vezes e deposto por intervenção externa também 2 vezes, por defender políticas sociais contrárias aos lobistas industriais |
Um dos maiores absurdos e injustiças da atualidade, o
governo americano prometeu uma fundo no valor de USD 850 milhões para ajudar o Haiti a
sair da pobreza. Esse dinheiro nunca foi visto pelo governo haitiano, ele foi
todo repassado para ONGs instaladas no país. ONGs não pagam salário da polícia,
não constroem escolas nem estradas. Ainda assim, o Haiti foi obrigado a pagar
os juros desse empréstimo que nunca tocou. Como se não bastasse, os lobistas
americanos gritavam pro mundo inteiro ouvir que Aristide era um administrador
incompetente por não conseguir organizar o estado, “apesar de ter recebido USD 850
milhões” de ajuda. Muitas ONGs internacionais hoje são mal vistas no Haiti, por serem “concorrentes” do estado na arrecadação de fundos de ajuda internacional. Malgrado o embargo, juros cobrados injustamente e de todas as tentativas de Bush filho de
acabar com a reputação do presidente, Aristide continuava com imensa popularidade
entre os haitianos pelo pouco que conseguiu construir com o paupérrimo caixa do
país.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBv_0xDTfwdcN9zR72km1K1zmYXvzWHl2aBu0piKJTL3_RJvV2UuMsmEM_FlR5WUUaZfJPNCCS8zVJSZGZ0_ZgADAsh2cMx91V83tcP09NmEwUXMJWyqHFBY6NnIgQDuytJ2OuzomKqeY/s400/brazil_crimes_against_haiti_by_latuff2_70pc1.jpg) |
Charge em créole ironizando a "simpatia"
das tropas da ONU no Haiti |
Ao ver que suas táticas não
estava funcionando, os americanos partiram para uma estratégia menos “sutil”:
em 2004, na ocasião de uma onda de protestos nas ruas de Porto Príncipe, obrigam o presidente Aristide a embarcar num avião da US Air Force.
Dentro da aeronave, durante 20 horas no ar, agentes da CIA “persuadem” o presidente
a assinar a renúncia. Trata-se pura e simplesmente de um sequestro. Aristide se
exila na África do Sul.
Esse evento desperta um caos
popular nas ruas de Porto Príncipe e de todo o Haiti. Uma verdadeira guerra
urbana se instaura, com os famosos “chimères” (grupo armado simpatizantes do
presidente Aristide) aterrorizando a população. Entra então a missão da ONU
para restaurar a ordem no país, missão batizada de MINUSTAH (Missão das Nações Unidas Para a Estabilização do Haiti), comandada pelo
exército brasileiro.
Novas eleições são organizadas em
2006 onde o presidente Préval é eleito pela segunda vez num sufrágio recheado
de fraudes e dúvidas, mas finalmente aceito pela comunidade internacional
legitimado pelo apoio popular ao novo presidente.
Em 2010, com o terremoto que
destruiu o que restava do Haiti (do qual falarei com mais detalhes num próximo
post), duas figuras políticas de peso retornam de seus exílios ao Haiti, sem
que ninguém tenha certeza de suas intenções: Baby Doc e Aristide.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgK5s5aw0WycYA5r70kF-o-NA1gvoTxq2s48zAR9E_K2j3ceEs46EUmiU1Q0jACEu7BaJBypRI7BTR_TRuWkBJLJC2KUQRj0dhzgJJ1g0jo-1R2fZ6qPV2jDcBmY_ioLNfho_n241KXA-Q/s640/baby-doc.jpg) |
Baby Doc volta ao Haiti depois de 25 anos de exílio na França. Já não tem mais tanta cara de "baby" |
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqUwu-8LIGLYwEtLwsmSRfjFzSHTiQrnzrKuqhAyjXt3_HTyHk411fQXg_O_dedVWWwHr_yosAnQNyODExpuLnHUOTF8XTX2rrcNN41ffJ3KJTmoeqsY7JtQj7dasOhZm3FBI2gF6Q5aU/s640/aristidea.jpg) |
Arisitide volta à Porto Príncipe após 7 anos de exílio na África do Sul |
Em 2011, com todo o caos pós-terremoto,
acontecem novas eleições presidenciais que se passam com relativa calma e transparência.
O ex-cantor popular Sweet Micky e atual presidente do Haiti (agora respeitosamente chamado de Michel Martelly) tem ideias de direita e é simpatizante
dos golpistas de 1991. Tem muito trabalho a fazer num país que precisa ser
inteiro reconstruído e com uma população impaciente.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxE9JZyyyS1HsRzVJTPXXJ-25nYgeGk0eBXWfX82BEHp-wON9PgItGHHqKsnPhy6Ab90TQg65oToG0xOchiZggUZ3kwxVcNZyANzzd0sCkDXIsvWuPEg-fdbITeqDACfix3l1mxBdmJl4/s640/sweet.png) |
As diferentes facetas de Sweet Micky, atual presidente do Haiti |
Como se pode notar, a história do
Haiti não é particularmente pacífica e estável. A escravidão dos chicotes e
correntes foi substituída por dívidas e juros impagáveis, políticas externas intervencionistas
de governos neoliberais paranoicos e uma cultura de instabilidade política e
violência. A revolução de escravos que fundou um país em 1804, liderados por Toussaint Louverture, ainda permanece um projeto inacabado.